Com aquela cena em mente, relaxou os ombros e bebeu seu café, fumegante e quente. Uma careta de descontentamento surgiu quando Diana revisou mentalmente a lista de afazeres do dia. Não gostava de pedir ajuda para realizar as tarefas do sítio. No entanto, ela teve que admitir de forma relutante que não poderia consertar a parte elétrica do gerador de energia.
Suspirou irritada, bebeu o resto do café e foi se vestir. Ela sorriu do pijama velho, largo e descorado que estava usando. Ao passar pela sala, voltou a olhar para o quadro que o espelho do corredor lhe havia mostrado. Viu uma mulher com pele clara e cabelos revoltos e claros; viu um rosto relativamente jovem escondido por uma máscara de tristeza e solidão, riu e fez uma careta acompanhada de um gesto obsceno. Não se importava com a aparência, ajeitando o cabelo atrás da orelha, vestiu sua roupa de trabalho, uma calça jeans gasta e uma camisa larga. Terminou de se arrumar e saiu para o quintal, fechou os olhos, de cara para cima, absorvendo a energia do dia.
Estava realinhando suas energias quando se sentiu jogada ao chão. Caiu em meio às folhas secas, mas caiu rindo porque sabia quem era aquele inimigo sorrateiro que a derrubou de forma covarde e amigável. Já estava gargalhando e lutando para conter as lambidas na cara. Foi vencida facilmente porque logo chegaram outros, e aquele momento se transformou em uma verdadeira guerra em meio às folhas amareladas que voavam pelos ares entre latidos e risadas. Brincou um pouco mais com os quatro peludos e enormes cachorros que logo foram disputar alguma prova imaginária em meio à enorme clareira.
Tomou banho, lavou os cabelos, vestiu um macacão amarelo, com uma blusa verde, terminou de ajeitar os cabelos e, de pés descalços, foi até a cozinha. Fez uma omelete com ervas finas e abriu um vinho. Comeu sentada na soleira da porta da cozinha, olhando os cavalos correndo pelo pasto; como gostava daquela paz. Respirou fundo e apoiou melhor as costas na parede, olhando a taça de vinho. Sentiu seu devaneio, ouviu risadas de crianças, latidos, algazarra. Era uma tarde de inverno, a casa estava cheia, o cheiro de bolo no ar, a música; sentiu um abraço enquanto lavava a louça, sorriu, sentiu o beijo no pescoço...
— Você sempre me observando na cozinha, nem me assusta mais. — Fica muito atraente quando está distraída, com essa perna apoiada na outra... — o abraço ficou apertado, durou longos segundos em um misto de aconchego e despedida.
O clima foi cortado por uma gritaria de crianças, que entraram pela cozinha correndo, um menino risonho, de cabelos claros e na altura dos ombros, todo cacheado; a menina um pouco mais baixa, com tranças e aparentando estar muito brava. Não foi possível identificar o diálogo, mas tudo se transformou em uma grande conversa, com risadas e danças engraçadas...
— Ei, moça? — foi arrancada do que pensou ser apenas um devaneio, quando na verdade tinha sido um belo cochilo. Praguejando baixinho por ter sido pega dormindo e por não ter ouvido os latidos dos cachorros, levantou e estendeu a mão para cumprimentar o homem parado à sua frente, com olhar de quem presenciou uma cena engraçada. — Boa tarde, me chamo Diana, você provavelmente deve ser o "faz-tudo" — não pôde evitar a ênfase no "faz-tudo", riu mentalmente disso. — Sim, mas pode me chamar de Conrado. Vamos ver a belezura que me trouxe aqui? Ele falava engraçado e era bonito, repreendeu seus pensamentos por irem por esse caminho, mas era impossível não reparar no conjunto de atributos do faz-tudo. Balançou a cabeça para afastar aqueles pensamentos inconvenientes e apontou para o lado do celeiro. — Claro, é por ali. — Saiu andando na frente, para disfarçar o rosto corado, ainda pela situação em que havia sido pega e pelos pensamentos atrevidos que involuntariamente brotaram.
Ele então pegou a caixa de ferramentas que já estava no meio do gramado e seguiu a mulher de cabelos que pediam para serem afagados. Para surpresa de Diana, o faz-tudo realmente sabia consertar coisas, ficou observando-o trabalhar, disfarçando, arrumando umas prateleiras com vidros de sementes e medicamentos. O rapaz estava concentrado no trabalho, e o único som que se ouvia era o tilintar das chaves, quando ele trocava uma pela outra. Ela, cuidando para ver se ele realmente sabia o que estava fazendo, foi pega por ele espiando o trabalho, o que não deixou por menos de um meio sorriso. — Vou testar, vamos ver se esse neném vai funcionar. — Ele limpou as mãos e foi até a tomada, onde estava o interruptor que ligava o gerador.
O gerador emitiu um longo ruído, meio engasgado e então funcionou. Ele sorriu de contentamento. — Agora é só fazer um ajuste e montar tudo, a boa notícia é que ele vai ficar bem — disse em tom de comemoração. — Ótimo — foi a única coisa que conseguiu dizer. Foi chamada para a realidade quando se ouviu um estrondoso trovão, seguido por raios. — E bem a tempo, porque vem chuva pesada aí — comentou ele. — O senhor me dá licença, vou recolher as roupas e fechar as janelas.
Estava quase toda molhada dos pingos grossos de chuva que começaram a cair. Foi nesse momento que deu pela falta de uma das vacas, e justamente a que estava prenha. Não pôde deixar de resmungar, a chuva já estava mais forte, não tinha escolha, saiu em disparada para o piquete onde as vacas costumavam pastar naquele horário. Tapando com a mão os olhos, na esperança de ver melhor, logo conseguiu avistar a vaca que, por sinal, estava deitada.
Correu até ela, conseguiu fazer com que levantasse e sim, a vaca estava em trabalho de parto. — Ei, maluca, saia dessa chuva gelada — ouviu o faz-tudo gritando. Que audácia, pensou enquanto incentivava a vaca a entrar no celeiro. O gerador já estava funcionando, e então Conrado fechou a porta do celeiro.
— Nossa, que chuva! — exclamou ele — e você está ensopada. — Preciso ir até a casa, está tudo aberto — Diana se apressou em voltar por onde tinha entrado. Porém, quando estava no meio do pátio, uma rajada forte de vento alcançou em cheio os galhos do velho ipê-amarelo. Ela não se deu conta do que ia acontecer, estava com os olhos voltados para a casa. Conrado, que estava na porta do celeiro, tentou correr e fazer alguma coisa. Diana foi atingida por um grande galho do ipê que se desprendera com a força do vento. O galho veio pela lateral, então ela só sentiu o impacto, a dor e tudo ficou preto.
O céu escureceu por completo, a chuva caía copiosamente, a escuridão era desafiada somente pelos raios que cortavam a imensidão com ramificações, formando mapas para destinos complexos e inatingíveis. O quarto estava iluminado apenas pelo abajur, com sua luz amarela. As cortinas deixavam à mostra todo o espetáculo da chuva, que batia violentamente contra a janela. Na cama, pelo estado frágil, ela parecia uma menina, estava vestida com seu pijama velho e aconchegante, coberta por uma manta grossa de lã, cuidada de perto pelo gato caramelo, atento a cada pequeno movimento.
Os cabelos esparramados pelo travesseiro, mas o que chamava a atenção era o curativo improvisado, já manchado pelo vermelho vivo do sangue. Uma voz alterada vinha da direção da sala, andando de um lado para o outro, falando ao celular. Estava Conrado, com a expressão facial contraída e séria.
— Como assim, você não pode me ajudar, cara, tem uma árvore enorme no meio da estrada, não consigo retirar sem ajuda de uma máquina, eu não sei qual a gravidade da lesão, ela está desacordada... Sim, está respirando, diz que tem uma solução, não posso esperar muito.
Um homem daquele porte, andando de um lado para o outro, puxando nervosamente os cabelos, tentando não elevar a voz, mas era evidente o nervosismo e a preocupação. A chuva estava densa e não mostrava sinais de que iria diminuir. Já havia ligado para pelo menos metade das pessoas que ele conhecia, mas ninguém poderia lhe ajudar. Parou diante de uma foto, moldurada e centralizada, uma mulher sorrindo, sentada no chão, duas crianças disputando o colo, filhotes de cachorro rodeavam as pessoas e pareciam brincar com a situação. Era quase possível ouvir os sons de risadas.
Ouviu ruídos vindos do quarto, rapidamente se dirigiu até lá, coração acelerado. Diana se debatia na cama, convulsionando, e agora, o que faria? Chegou o mais rápido possível ao lado da cama, não sabia ao certo o que fazer, estava assustado e agiu por intuição, segurou o corpo frágil que se debatia, imobilizou da forma que foi possível, colocando o corpo de lado. A agitação durou cerca de três longos minutos. Enquanto tentava segurar sem apertar demais, seu olfato era inundado pelo aroma que se desprendia do corpo e dos cabelos, cheiro de flores, de mistério, ficou perturbado.
Diana não estava entendendo nada, estava em um lugar escuro, por mais que andasse, nada mudava, não saía do lugar. Ouviu seu nome, conhecia aquela voz, tentou gritar, fez muita força, não conseguiu emitir um único som. O que estava acontecendo com ela? Sentou e esperou, pequenos flashes começaram a surgir: o dia do acidente, o carro pegando fogo, o pavor, a dor, as crianças chorando, a despedida. A solidão, o recomeço, os problemas com a rebeldia dos filhos, a depressão, contas... A formatura do filho, a decisão da filha em morar na cidade grande, solidão...
A chuva gelada ensopou a roupa do homem que, em meio à escuridão, acenava com uma lanterna para o outro que se aproximava. Enfim tinha conseguido ajuda para remover a árvore que tomava conta da estrada. Muita lama e escuridão dificultaram o serviço da máquina, com muita dificuldade, conseguiram desobstruir a estrada. Conrado agradeceu ao motorista e entrou rapidamente no carro, não tinha tempo a perder.
De volta à casa, pegou Diana no colo, enrolada na manta, tentou ser o mais cuidadoso possível, evitando movimentos bruscos, protegendo-a como dava da chuva. Sentado no corredor do hospital, recebeu o primeiro boletim médico. Diana estava na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), sofrera um traumatismo craniano. Os médicos estavam avaliando o real estado de saúde, realizando minuciosos exames, mas pediram que comunicasse imediatamente à família. E agora, como realizar essa tarefa? Olhou para suas botas enlameadas, roupa molhada, mas o que mais incomodava era aquela angústia no peito. Como explicar aquele sentimento estranho e sem nome, que o fazia temer pela vida daquela mulher misteriosa e linda, com cheiro de aconchego, que estava inerte na cama do hospital?
Conrado tinha se mudado há pouco tempo, a vida pacata do vilarejo o trouxera de longe, vinha de uma vida louca de escritório e horário de pico. Tinha uma vida relativamente confortável em um grande centro, seu escritório ficava em um dos edifícios mais altos, trabalhava em uma multinacional, ocupava um cargo de diretor, vivia em função do trabalho. Aos finais de semana, quando não precisava ir até reuniões disfarçadas de coquetéis e sociais, se via preso em seu apartamento, consumido por uma solidão insuportável que o fazia frequentar academias que atendiam 24 horas.
A motivação para a mudança radical de vida veio no dia em que presenciou um dos poucos amigos que cultivava em sua vida pessoal sofrer um AVC pelo índice elevado de estresse em uma transação que envolvia valores exorbitantes e não estava deixando que o mesmo descansasse até concluir a negociação. Estava sentado em seu escritório no final do expediente, olhando o céu encoberto pelas nuvens pesadas de poluição, e por coincidência um anúncio passou pela tela do laptop. O produto vendido era produzido em um pequeno vilarejo, ao pé da montanha, ficou extremamente curioso pelo lugar.
Como um adolescente em uma viagem de aventura, rumou para o que seria sua nova casa. Os colegas de escritório ficaram perplexos com a sua decisão, já o viam como presidente, visto que era brilhante no que fazia. Era uma pessoa desapegada de bens e não gostava da vida badalada e carregada de vícios e futilidades. Sua conta bancária estava com uma boa quantia em aplicações e títulos de investimento. Não precisaria de muito para viver, além disso, tinha as mesmas habilidades do avô paterno, seu hobby era consertar coisas elétricas, passava horas desmontando e testando aparelhos velhos e gastos pelo tempo.
Não poderia imaginar nem de longe que em pouco tempo já estaria bem instalado e com uma boa clientela. Naquele dia, quando seu telefone tocou, estava terminando de consertar um velho toca-discos. O dono, um senhor galanteador e simpático, ficara longas horas contando histórias sobre as inúmeras vezes que o aparelho cumpriu seu papel em noites românticas regadas a vinho e baladas. A voz do outro lado do telefone soou autoritária demais para a idade que ele mentalmente calculou. Anotou o endereço e programou o horário para a visita.
O caminho até o sítio foi muito prazeroso, um lugar relativamente perto, porém bem preservado de outras pessoas, visto que a floresta nativa era conservada de forma rigorosa pelos moradores locais. Ao chegar no local indicado pelo GPS, analisou com admiração a bela casa, contornada por grandes árvores e um imenso gramado. Foi recebido por três cães saltitantes e curiosos; o quarto ficou de longe, como se estivesse guardando o local. Se não estivesse acostumado com os animais locais, possivelmente teria medo, mas diariamente lidava com os diversos bichos que seus clientes criavam. Chamou uma vez, não obteve resposta, resolveu rodear a casa, mais por curiosidade do que para encontrar alguém.
Continuou a exploração, acompanhado de perto pelos cães, como se estivessem lhe avisando que, ao menor sinal, ele poderia se dar muito mal. Riu e acariciou a cabeça de um deles, parou de repente ao se deparar com aquela cena, um tanto engraçada, mas ao mesmo tempo deliciosa de se apreciar. A mulher que calculou ser aquela impertinente da ligação estava sentada no degrau que conduzia para o interior da casa, escorada no batente da porta. Ela ressonava levemente, uma expressão de felicidade iluminava o rosto angelical, e os cabelos, volumosos e que transmitiam uma possível personalidade forte.
Agora estava ali, sem saber como falar para a família que Diana estava vivendo momentos decisivos, sua vida inspirava cuidados. Respirou fundo, estava com o celular dela nas mãos, sentiu um certo receio por mexer em um objeto tão particular como aquele, mas não tinha outra forma de encontrar o que precisava, informações sobre ela.
A agenda dela era pequena, sem muitos contatos, não foi difícil localizar o número do telefone do filho, apertou o discador e esperou, o sinal de chamada fez subir um nervoso estranho. A ligação caiu na caixa de mensagem, ficou frustrado e aliviado ao mesmo tempo.
O próximo contato foi o da filha, no segundo toque, uma voz jovem e enérgica atendeu. — Mãe? Como assim, está me ligando, que novidade é essa, dona Diana? — Conrado se viu obrigado a falar.
— Oi, na verdade, me chamo Conrado, tenho que te dar uma notícia sobre a sua mãe...
Dali por diante foi uma mistura de choro e falas de desespero, pôde constatar que a filha era relativamente jovem. Tentou deixar a menina calma, explicando de forma objetiva o acidente. — E o irmão? — ela questionou. Conrado relatou que o mesmo não atendera ao telefone.
Depois daquela ligação, o tempo ficou estranho, passou a noite ali, caso fosse preciso fazer alguma coisa, estava com uma angústia no peito, uma dor que ele nunca tinha experimentado antes. Antes do dia nascer, entrou pelo corredor uma jovem alta e de olhos vermelhos pelo choro, se viu abraçado por ela, mesmo sendo estranhos um do outro, aquele afeto foi tão familiar.
Ele contou novamente em detalhes todo o acontecido, foi informado que o filho também estava a caminho, decidiu então, esperar mais um pouco e depois iria embora, deixaria Diana com os filhos. Estavam em silêncio quando o médico apareceu para informar como estava a paciente.
Trazia uma expressão séria e foi possível entender o porquê assim que ele começou a falar. Diana precisaria passar por uma cirurgia delicada, uma parte do cérebro estava sendo comprimida pelo inchaço ocasionado pela fratura, era preciso realizar a intervenção cirúrgica quanto antes. Antes do médico terminar de informar o boletim, o filho mais velho, pelo que pôde concluir, chegou e abraçou a irmã. O sofrimento do rapaz era nítido, mas era possível notar que tinha algo mais, não era só o acidente que estava causando aquela dor, Conrado esperou que o médico terminasse o boletim, falou com o filho de Diana, e então resolveu se retirar, não tinha mais nenhuma obrigação para permanecer ali.
Saiu sem ser notado, seguiu o médico e parou em uma porta dupla, onde a sigla em vermelho o fez parar, foi até uma pequena janela de vidro e seus olhos se depararam com um cenário perturbador, Diana estava coberta por fios e aparelhos, duas enfermeiras conferiam a medicação que descia pelo soro, era possível ver os cabelos presos e metade da cabeça envolvida em um curativo branco. Não sabia ao certo o que dizer ou fazer, mas pediu que ela ficasse bem. Quando entrou no carro, encontrou a manta que trouxera enrolada em Diana, não se conteve em cheirar aquele perfume tão suave e, ao mesmo tempo, tão marcante.
Conrado se manteve ocupado, tentou evitar pensamentos que o levassem a Diana. Trabalhou incansavelmente, de modo que ao se deitar, a exaustão não permitisse que a insônia o fizesse escravo de madrugadas em claro.
Uma semana se passou e ele não conseguiu evitar um só dia de pensar em Diana. Fez menção de ir até ao hospital para ter notícias, mas se achou intrometido e inoportuno. Estava desmontando um forno elétrico quando seu telefone tocou, atendeu de forma costumeira e a voz masculina inicialmente não foi reconhecida.
— Boa tarde, senhor Conrado? — Bem, o senhor não me conhece direito, sou Benhur, filho da Diana, a que o senhor... — Sim, eu sei quem é a sua mãe — interrompeu nervoso e ansioso, sem saber se iria gostar da notícia que receberia. — Bom, desculpe estar te ligando, peguei seu contato no hospital, como já tem muito tempo que eu não vinha até aqui, não conheço ninguém a quem eu poderia pedir, mas como minha mãe confiou nos teus serviços, concluí ser uma pessoa de confiança. Como não apareceu mais no hospital, não deve saber, mas minha mãe precisou ser transferida. A cirurgia que ela precisava fazer era de alto risco.
A voz do jovem foi sumindo depois dessa notícia, então ela não estava mais ali, mas, ao mesmo tempo, um alívio tomou conta por saber que ela ainda estava viva.
— Senhor Conrado? O senhor está me ouvindo? — Sim, desculpa, poderia repetir a última parte, por gentileza? — Claro, minha mãe irá fazer a cirurgia amanhã, está no hospital da cidade onde eu moro, estarei embarcando hoje, fiquei apenas para tomar algumas providências. Como eu estava dizendo, não sabemos ao certo por quanto tempo ela ficará fora, estamos muito confiantes nos médicos que irão realizar a intervenção cirúrgica. — Ah, sim, entendi. Bem, claro. Posso sim. — Que boa notícia, fico mais tranquilo em saber. Podemos nos encontrar no centro, na cafeteria, para eu entregar as chaves e as orientações? — Sim, posso, em quarenta minutos, ok?
Conrado se viu mais uma vez envolvido com as coisas de Diana, e o estranho foi constatar que tinha ficado feliz por isso. Encontrou Benhur no local previsto, pôde observar o quanto ele estava abatido. Foi informado das últimas notícias de Diana, recebeu orientação quanto aos trabalhos no sítio, onde comprar suplementos caso fosse necessário. Foi para casa, organizou as coisas, fez uma pequena mala com roupas e seguiu rumo ao sítio de Diana. Benhur não disse nada de muito revelador, mas afirmou o quanto a mãe amava aquele lugar, recomendou que cuidasse de tudo da melhor forma possível, pediu para que ligasse se precisasse de alguma coisa.
Quando desligou o carro, foi tomado pelas lembranças daquele dia, afastou da memória a cena terrível de Diana sendo atingida pelo galho e desceu do carro, esperando o ataque dos cães. Percebeu que estavam deitados na varanda, ergueram a cabeça para conferir quem estava chegando, perdendo o interesse logo em seguida.
Conrado se dedicou em cuidar com zelo das coisas de Diana, cuidou dos animais, das plantas e da casa, sem grandes esforços, descobriu que ela era viúva, tinha perdido o marido em um acidente de carro. Talvez a expressão de dor estampada no rosto de Benhur tivesse alguma ligação à morte trágica do pai. Tentou não pensar sobre aquele assunto. Às vezes se pegava olhando as fotos, admirando como Diana criou os filhos, se perguntou por que ela ainda estava ali sozinha. Quando as cortinas eram embaladas pelo vento, era quase possível imaginar ela entrando pela porta, o aroma do perfume se espalhava pelo ar, deixando essa impressão nítida.
Tentava se manter ocupado a maior parte do tempo. Às vezes Benhur ligava, perguntando sobre como estava tudo. Poucas palavras, ele por sua vez, não aprofundava o diálogo, informava o que era questionado e dava por encerrada a conversa. Não se atrevia a perguntar por Diana, nem mesmo esperava ser informado, não era da família, nem amigo era. Mas seu coração, antes duro e seguro de si, estava ansioso e vazio, entendia perfeitamente a tristeza dos cães. Mesmo tentando animar com brincadeiras, era inútil. Nada tinha graça.
Em noites com chuva, se via parado diante da janela do quarto, olhando as árvores se agitando com o vento, enquanto a escuridão era castigada por raios e trovões assustadores. Já estava para completar meses do acontecido.
Naquele amanhecer, o sol despontou radiante, Conrado saiu para o quintal, fez o manejo dos animais, conferiu os estábulos, alimentou todos os cavalos e, enquanto amontoava as folhas do gramado principal, percebeu a inquietação dos cães. Parou para verificar o que estava causando aquele alvoroço de latidos. Foi então que percebeu um carro que se aproximava.
Olhou os cachorros e constatou que possivelmente era conhecido deles, o carro parou próximo ao grande carvalho, e então seu coração também se agitou. A porta se abriu e pôde ver quem era a passageira sorridente que descia vagarosamente.
Então ela estava de volta, os cães correram em sua direção, ele por sua vez, ficou congelado, sem reação. Só saiu do transe ao perceber a dificuldade que a filha de Diana estava tendo para conter a euforia dos animais. Foi até eles um tanto desajeitado, sem saber se dizia "olá" ou se segurava um dos cachorros mais saltitantes.
Seu olhar se prendeu no dela, não entendia por que o coração estava tão descompassado, mas sabia que era um alívio vê-la em pé.
— Olá, faz-tudo. — disse ela antes de se jogar em um abraço, longo e apertado.
Nesse momento, Conrado sentiu que o coração dela também estava batendo forte, fechou os olhos e respirou fundo a fragrância do perfume, direto da fonte, pôde então afagar os cabelos revoltos e macios.
Ainda abraçados, ouviu um sussurro: — Obrigada...
Retirando as coisas do carro, Caroline não pôde deixar de agradecer por mais aquele momento.
Todos os dias passados na cabeceira da cama, ela só pedia que a mãe pudesse viver novamente, de forma plena e feliz, como ela merecia. Olhando aquela cena, sentiu uma paz tomar conta do seu coração. Foram interrompidos com a chegada de Benhur, que ao descer do carro foi prontamente alvejado pelos cães. Todos caminharam em direção à casa, conversando animadamente, enquanto as árvores se agitavam pela revoada de pássaros que se aninhavam em seus galhos...
Os dias ali definitivamente não seriam mais iguais, o cheiro de bolo assando se misturaria novamente ao aroma do café, as risadas e a música, tudo que um bom refúgio ao pé da montanha poderia ter de mais acolhedor.
Muito bom … mas queria a parte dos beijos … rsrs
ResponderExcluirTambém senti falta dessa parte kkkk ficou um gostinho de quero mais rs
ExcluirNossa que coisa mais linda essa história! Mais gostaria de saber oque aconteceu depois com o casal ?
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